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terça-feira, 27 de dezembro de 2011

SÓ POR SER MULHER

Não sei quanto a você, leitora, mas eu, enquanto mulher, sofri abusos desde a infância. Minha mãe não teve culpa, já que em sua época ela achava que as pessoas eram confiáveis e esse tipo de coisa não era muito comentada. O marido da vizinha de porta de minhã mãe me alizava quando eu tinha uns quatro anos e nada mais grave aconteceu porque no dia que ele ia tentar algo  ousado, minha mãe veio para a sala e ele quase me jogou do outro lado do comodo. Sei que daquele dia em diante, mesmo sem entender o que ele fazia eu não gostava dele e passei a ficar grudada em minha mãe para não ter contato nenhum com ele. Este é apenas um dos muitos incidentes que aconteceram ao longo de minha vida. Fico pensando se todas as mulheres passam por isso ou se alguma felizarda passou sem marcas pela infância e adolescência. Sei que são coisas que escondemos dentro de nossa caixa preta e que não gostamos de comentar com ninguém mas o que mais me enfurece é o completo descaso de alguns homens quando falamos no quesito segurança para nós, quando voltamos para casa tarde da noite, ou quando andamos sozinhas por lugares que não são lá muito recomendados ( e as vezes temos que faze-lo por causa do trabalho). Lembro que eu morava em Botafogo e trabalhava em uma empresa de cartões de crédito privado onde eu era supervisora de loja e tinha que rodar todo o Rio e Grande Rio, ou seja, isso incluía baixada e outros lugarzinhos mais, e esperava pelo frescão para Campo Grande às 7:00h( atente para a hora) na praia do Flamengo quando reparei em um carro, na época um santana, que passava lentamente por onde eu estava, várias vezes. Quando me dei conta o sujeito estava parando  na minha frente e olhando para dentro do carro vejo a criatura, nua em pêlo, se masturbando e me chamando. A sorte é que o ônibus chegou logo atrás  e saí correndo para dentro do coletivo. Tem noção da mente pervertida desse homem, andar pelado dentro do carro às 7 horas da manhã para molestar mulheres paradas no ponto do ônibus?? Quando cheguei em casa e contei para o meu marido ele começou a rir. Me senti humilhada e desamparada, pois nem uma palavra de consolo ouvi daquele que devia ser meu protetor e cuidador. Muitos casos acontecem diariamente com milhares de mulheres e elas preferem se calar por achar que não adianta nada falar e que vai ficar por isso mesmo. Realmente fica "por isso mesmo" porque não nos unimos e clamamos por uma solução das autoridades pela segurança pública. Cada vez mais os malucos saem a caça de vítimas mulheres porque sabem que ficarão impunes para sempre. Hoje sou uma pessoa bem resolvida, graças a Deus, mas ando na rua com olhos por todos os lados porque as coisas acontecem quando estamos distraídas, acontecem porque confiamos nos amigos ( um grande número de estupros é cometido por conhecidos). Se fiquei paranóica? Um pouco. Mas acredito que este estado frequente de alerta me salvou de muitas coisas. Eu poderia passar dias relatando fatos que ocorreram comigo (não foram poucos) mas de nada adiantaria. Muitas pessoas ainda diriam que a culpa é minha porque me visto assim ou assado ou porque dei "trela" para o sujeito. A mente do tarado não tem um padrão de comportamento. Para ele não importa se a mulher está usando mini-saia ou saia comprida. Na cabeça dele, sabe-se  lá o que se passa, é apenas mais uma presa. Por várias vezes chorei simplesmente por ser mulher e me achar tão vulnerável aos acontecimentos e saber que não tenho força suficiente para me defender de um lunático me atacando. Acho que isso só vai mudar no dia que todas denunciarem os safados que  molestam, que batem, que fazem terror psicológico e que acabam com a paz de espírito de nós mulheres. Sejam fortes. DENUNCIEM!!!
Não quero acreditar que, só por ser mulher, terei que sofrer calada o resto de minha vida.